O nascimento das artes marciais remonta aos primórdios da história. Os primeiros indícios de sistemas de luta surgem já na Antiguidade, mais concretamente, no primeiro milénio Antes de Cristo, quer na Ásia, quer na Europa. As artes marciais modernas, tal como as conhecemos, resultam da fusão de artes marciais embrionárias chinesa e indianas, sendo um dos expoentes máximos o karate. Actualmente, e de acordo com estimativas do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, existem cerca de 50 milhões de praticantes a nível mundial. É uma das modalidades mais facilmente reconhecidas pelas pessoas, independentemente da sua origem. Contudo, uma questão se coloca: como é possível que uma arte marcial de um país tão longínquo tenha alcançado e influenciado diferentes culturas, povos, gerações e países? Para este resultado, muito contribuiu o sensei Gichin Funakoshi, considerado por muitos, o pai do karate moderno. Sensei Funakoshi era um habitante de um pequeno arquipélago ao largo do Japão, denominado por Ryukyu, tendo nascido em Okinawa, em finais do século XIX. Graças às boas relações da sua família com alguns mestres de karate, foi-lhe concedido o privilégio de aprender o segredo desta arte marcial, tendo posteriormente criado o seu próprio estilo, o shotokan. Alguns anos mais tarde, e com o intuito de semear as sementes do karate noutros pontos do Japão, sensei Funakoshi decidiu mudar-se para Tóquio, onde na sua opinião, as bases para a criação de universo de praticantes, que mais tarde viriam a ser os “missionários” desta arte marcial, seria possível de ser implementada. Daí em diante, o sucesso e disseminação do karate foi semelhante a um rastilho, espalhou-se, massificou-se e fundiu-se com a cultura oriental e ocidental. Mas o que é o karate? Se analisarmos a palavra, kara significa vazio, e te significa mão. Logo, podemos verificar que subjacente a esta arte marcial, está um princípio de não-agressão, de anti-confronto, de paz. Poderá ser um paradoxo, uma arte marcial que tem como objectivo o evitar do confronto físico. No entanto, um forte princípio filosófico subjaz ao karate, bem patente nesta frase do sensei Funakoshi: “Ser vitorioso cem vezes em cem batalhas não é um feito, mas vencer o adversário sem lutar, este sim é o maior feito.” Esta é uma das traves mestras do karate, vencer sem lutar, ou seja, vencermo-nos, sermos capazes de não recorrer à violência, ao confronto. Esta é a verdadeira batalha. Inclusive podemos ousar afirmar que o karate é uma atitude perante a vida, uma forma de estar e de ser. Ao contrário da vasta maioria dos desportos coletivos e individuais, o karate é um caso paradigmático, pois muito influenciado pelos ideais budistas e do bushido (código de conduta dos samurai), é um desporto indissociável e intrinsecamente ligado a um conjunto de preceitos e regras. Este código de conduta ganha vida com o Dojo Kun e com o Niju Kun.
“Quando olhamos para a vida, pensemos de acordo com o karate. Mas lembrem-se que karate não é apenas karate – é a vida.” Gichin Funakoshi